Autor: Gabriel Pantoja
Fonte: kongsberg.com
A automação é uma tendência em diversos setores do mercado internacional, no mercado naval não é diferente. Projetos de embarcações autônomas têm ganhado cada vez mais espaço na reformulação de diversas atividades da indústria, bem como no preenchimento de lacunas operacionais, otimizando custos, gasto energético, garantindo maior eficiência e segurança em diversos campos de atuação.
Mas o que são embarcações autônomas?
Simplificando o conceito, pode-se dizer que são embarcações capazes de operar sem o auxílio de uma tripulação. No entanto, essa definição se torna rasa ao observar a diferença entre uma embarcação capaz de tomar decisões e agir por conta própria, mediante análise de dados de sensores, e uma embarcação controlada remotamente. Por conta disso, essa categoria é dividida em níveis de automação e níveis de controle.
Níveis de autonomia de uma embarcação:
De acordo com a IMO (International Maritime Organization), existem quatro graus de autonomia para embarcações autônomas de superfície marítimas (MASS), estes são:
Nível um – Embarcação com processos automatizados e suporte à decisão: A tripulação está a bordo para operar e controlar os sistemas e funções do navio. Algumas operações podem ser automatizadas e às vezes não supervisionadas, mas com tripulantes a bordo prontos para assumir o controle.
Nível dois – Embarcação controlada remotamente com tripulação a bordo: A embarcação é controlado e operado a partir de outro local. Os tripulantes estão disponíveis a bordo para assumir o controle e operar os sistemas e funções a bordo.
Nível três – Embarcação controlada remotamente sem tripulantes a bordo: A embarcação é controlada e operada a partir de outro local. Não há tripulação a bordo.
Nível quatro – Embarcação totalmente autônoma: O sistema operacional da embarcação é capaz de tomar decisões e determinar ações por si só.
Níveis de controle de uma embarcação autônoma:
Da mesma maneira, existem também os níveis de controle dessas embarcações autônomas. Confira:
Nível zero – Humano à bordo: A tripulação está a bordo para operar e controlar os sistemas e funções do navio.
Nível um – Controlada: Toda a funcionalidade está a cargo do controlador humano. O controlador tem contato direto com a embarcação e toma todas as decisões, direciona e controla todas as funções da missão, remotamente.
Nível dois – Direcionada: Sob controle direcionado, algum grau de avaliação e capacidade de resposta é implementado na embarcação. Pode avaliar o ambiente, relatar sua situação e sugerir uma ou várias ações. No entanto, a autoridade para tomar decisões é do controlador.
Nível três – Delegada: A embarcação é autorizada a executar algumas funções. Avalia o ambiente, relata a situação, define ações e relata sua intenção. O controlador tem a opção de modificar as intenções informadas pela embarcação durante um certo tempo, após o qual a embarcação agirá. A iniciativa da ação vem da embarcação, e a tomada de decisão é compartilhada entre o controlador e a embarcação.
Nível quatro – Monitorada: A embarcação não tripulada avalia o ambiente e reporta sua situação. Define as ações, decide e age, relatando sua ação. O controlador pode monitorar os eventos.
Nível cinco – Autônoma: A embarcação é dotada de grau máximo de independência e autodeterminação. Avalia o ambiente e sua situação, define as ações, decide e age.
Embora não hajam embarcações totalmente autônomas, capazes de tomar decisões por si só, este é o horizonte que espera ser alcançado em um futuro próximo.
Alguns exemplos nacionais do uso de embarcações autônomas:
No Brasil, alguns exemplos de atuação de embarcações autônomas são o USV (Unmanned Surface Vehicle) Tupan da TideWise, atuante no fornecimento de serviços portuários, costeiros e offshore, bem como na coleta de dados ambientais, batimétricos e no monitoramento de vazamentos de óleo;
Fonte: tidewise.io
e o AUV (Autonomous Underwater Vehicle) FlatFish, desenvolvido pelo SENAI CIMATEC, em parceria com a BG Brasil, subsidiária da Shell, que tem por objetivo realizar inspeções visuais em 3D de alta resolução visando alcançar níveis elevados na exploração de petróleo e gás em águas profundas.
Fonte: http://www.senaicimatec.com.br
O uso desse tipo de tecnologia permite uma redução significativa no impacto ambiental de operações marítimas, além das vantagens já mencionadas como maior precisão, na coleta de dados, por exemplo.
O horizonte da automação:
Embora, por questões de regulamentação, as embarcações autônomas sejam, em sua grande maioria, menores que 24m, a tendência, com o tempo, é de que se projete e construa navios cada vez maiores, incluindo cargueiros de grande porte. Um exemplo disso é o YARA Birkeland, o primeiro navio porta-contêineres totalmente elétrico e autônomo do mundo.
O interessante para o projetista de embarcações desse tipo é que, por ser um mercado pouco explorado, em relação à construção naval tradicional, os projetos são especializados por demanda. Cada caso é um caso, e cada embarcação tem um objetivo específico, sendo assim, cada uma delas deve ser projetada singularmente.
Automação e desemprego:
Quando se fala em automação de um setor, é um equívoco relativamente comum relacionar ao crescimento do desemprego no mesmo. No entanto, o desenvolvimento da tecnologia cria mais empregos do que destrói.
No caso da automação de embarcações, o que acontece é uma transformação mediante a qualificação dos tripulantes, de maneira que a embarcação seja operada por um time de terra. Além, é claro, de todos os profissionais envolvidos com o projeto, construção, desenvolvimento de hardware e softwares, programação, e as demais etapas do processo de criação de uma embarcação desse tipo.
Quer saber mais? Então confira nossos vídeos com o diretor executivo da TideWise, Rafael Coelho, falando sobre o tema. Bons ventos!