Petroleiros, uma história até o atual

No século XIX, foi quando o setor petrolífero se expandiu. O petróleo começou a ser utilizado para diversos fins e o transporte do produto era feito através de navios de carga geral e balsas. Isso se tornou um problema, devido ao fato de o único meio de armazenamento ser através de barris de madeira, que possuíam um alto custo, e não possuíam uma boa vedação, acarretando o vazamento do produto e impossibilitando o reuso do barril. Sendo assim foi necessário inovar em embarcações e no armazenamento do produto. Esse foi o início da era do Petroleiro, um navio que pode armazenar e transferir óleo e gás.

Houve um avanço no desenvolvimento das embarcações, mas era necessário muito cuidado e atenção para não haver falhas de segurança, visto que o produto é altamente inflamável. Também deveria ser levado em conta a expansão e contração da carga, pois ela variava de acordo com a temperatura. Depois de muitos anos de pesquisa para poder existir uma embarcação que se adequasse ao transporte da carga, em 1878 surgiu o navio Zoroaster, considerado a primeira embarcação a estar apta a transportar o produto de maneira segura.

Nos anos que se seguiram houve diversas melhorias nos projetos desse tipo de embarcação, como a divisão do tanque em vários menores, uso de motores com propulsão, um sistema de bombardeamento, entre outros. Desde então houve um grande avanço na construção naval, como o sistema de construção por blocos e com isso a criação dos superpetroleiros.

A maior embarcação do mundo é um navio petroleiro, Knock Nevis. Esse super petroleiro norueguês foi construído entre os anos de 1979 e 1981, ele possui 458 metros de comprimento, 69 metros de largura e 24,5 metros de calado. Devido a sua grande estrutura, essa embarcação não pode navegar por alguns canais (como o canal da Mancha), assim como, não pode atracar em todos os portos, dessa forma, a embarcação é descarregada em uma embarcação de apoio offshore. Em 2004, o Knock Nevis foi transformado em um FSO (Floating Storage and Offloading) e passou a atuar no Qatar para a empresa Maersk Oil. Em 2010 o maior superpetroleiro do mundo foi desmontado em Alang, seu aço foi recolhido para ser aproveitado como sucata.

Barco de madeira na água

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          Figura 1: O maior petroleiro do mundo, Knock Nevis.

Atualmente os navios petroleiros podem possuir casco simples ou casco duplo, no casco simples a carga está em contato com a estrutura da embarcação, enquanto no casco duplo, a carga é separada por uma “parede” de aço da estrutura, fazendo com que haja um reforço e maior segurança contra vazamentos. Em comparação a outros navios, os petroleiros são mais largos e menos fundos, dessa forma, carregam volumes maiores e conseguem navegar em águas mais rasas. O interior da embarcação é formado por 8 a 12 tanques, separados por placas vazadas, cuja função é evitar o efeito de slamming, pois a quantidade de líquido nos tanques pode fazer até a embarcação virar.

 O casco desse tipo de embarcação é o casco de deslocamento, utilizado em navios de grandes de porte que não “navegam na sua própria onda”.  A propulsão dessa embarcação é realizada por um hélice movido por um motor de 50 mil cavalos, e com isso, o petroleiro chega a uma velocidade de 16 nós (cerca de 30 km/h).

O navio petroleiro pode carregar cerca de 330 milhões de litros de petróleo. Os petroleiros podem ser classificados de acordo com o seu peso bruto, em inglês deadweight (a quantidade máxima de peso que pode ser transportada).

  • Small Tankers < 10.000 dwt
  • Handysize (10.000 – 30.000 dwt)
  • Handymax (30.000 – 50.000 dwt)
  • Panamax (60.000 – 75.000 dwt)
  • Aframax (80.000 – 120.000 dwt)
  • Suezmax (125.000 – 170.000 dwt)
  • VLCC (250.000 – 320.000 dwt)
  • ULCC (>350.000 dwt)

O casco desse tipo de embarcação é de aço, por possuir uma grande rigidez (resistente ao impacto, à fadiga e a abrasão), possui um baixo custo comparado a outros materiais, é pouco ruidoso, é facilmente reciclável, tem boa soldabilidade e ductilidade. Contudo, devido a corrosão do aço a embarcação deve passar por manutenções contínuas.

Acima do convés da embarcação é localizada a superestrutura. Lá é onde fica localizado a cabine de comando, camarotes e restaurante e onde a tripulação, em média, 25 pessoas, passam a maior parte do tempo.

O convés do petroleiro possui canos que se interligam entre os tanques de carga e distribuem o óleo de forma igualitária, garantindo a estabilidade do navio. Para carregar os tanques da embarcação o óleo flui da plataforma de perfuração para o petroleiro através de canos utilizando a da força da gravidade. No descarregamento, o óleo vai para os reservatórios de terra sendo necessário um sistema de bombeamento de alta pressão, assim como, serpentinas para aquecer o óleo tornando-o menos viscoso, acelerando o descarregamento. A duração desse processo varia e depende de fatores como o tipo de óleo e a sua temperatura.

Depois que o navio é descarregado, os tanques devem ser limpos com fortes jatos de água. Durante esse processo, a embarcação deve estar inclinada para a parte de trás e para um dos lados, de forma que a água suja de óleo possa escorrer para os “ralos” da embarcação e seja armazenada para poder ter um descarte correto em terra firme.

O petroleiro pode ser adaptado para funcionar como um navio aliviador para descarregar o FPSO (Floating Production Storage and Offloading). Essa adaptação permite que o petroleiro possa ser carregado em mares com ondas, correntes e ventos. Contudo, essa adaptação necessita de acompanhamento de rebocadores até o descarregamento no terminal. Sendo assim, o petroleiro adaptado não fica 100% equivalente ao navio aliviador. O aliviador ainda é a melhor forma de descarregar um FPSO, principalmente pela operação de carga e por motivos de segurança.

Com a atual crise econômica, ocasionada pela epidemia do coronavírus, navios petroleiros em todo mundo estão sem lugar para descarregar. Isso ocorre porque os armazéns em terra firme já estão com o seu limite máximo atingido, assim como as suas tubulações de transporte. Também não está havendo fluxo, visto que a demanda do petróleo está baixa. Manter o navio carregado em alto mar gera um custo de 30 mil dólares por dia.

Mapa colorido com texto preto sobre fundo branco

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Figura 2: Petroleiros ao redor do mundo, abril de 2020.

Desta forma, é através do transporte de carga realizado pelo petroleiro que a sociedade pode desfrutar das grandes aplicações do petróleo. A partir do refinamento dessa matéria-prima a podemos utilizar diversos produtos como: Combustíveis como a gasolina, a querosene, o óleo diesel e o óleo combustível. Plástico, através das resinas sintéticas (polímeros) obtidas do petróleo. Remédios, principalmente os analgésicos, que contêm benzeno, um derivado do petróleo e cosméticos, perfumes, ceras de depilação, xampus e condicionadores.

Autor: Amanda Santoro

Conselheira da Liga Naval

Graduanda em Engenharia Naval e Oceânica pela UFRJ

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