Mesa redonda – “Formei, e agora?”

A Liga Naval realizou na última semana, dia 27/10, uma mesa redonda com Engenheiros Navais formados onde os presentes puderam sanar algumas dúvidas relacionadas a transição entre o término da graduação e a inserção no mercado de trabalho. Entre os nossos convidados estavam:

Pedro Preza – Coordenador de Operações offshore Subsea7;
Ramom Antunes – Engenheiro Naval na NSG engenharia;
Dirney Junior – Engenheiro da Technip e aluno de mestrado;
Marcos Valladão – Engenheiro da Forship Engenharia e aluno de mestrado.

Devido ao sucesso da atividade transcrevemos algumas partes para que você que não teve a oportunidade de participar possa conferir.

Como proceder depois da faculdade? Programas de estágio trainee… O que vocês aconselham? Qual o tempo ideal para procurar um estágio? Vocês já estavam estagiando quando se formaram?

Marcos – O estágio é o trilho principal na conquista de um emprego. Essa é a receita que se passava quando eu tava no meu segundo, terceiro, quarto ano de faculdade, e é um caminho meio óbvio você seguir no estágio e ser efetivado na empresa. E, no tempo em que o mercado tava aquecido, era isso que acontecia. Os caras só não ficavam na empresa se realmente não quisessem. Eu comecei a estagiar em 2013 na Forship. Trabalhei o ano todo lá, no escritório, na parte de engenharia, mas eu sentia muita vontade de trabalhar mais no campo mesmo. Aí surgiu a oportunidade de trabalhar na DNV, que é uma classificadora, numa vaga em estaleiro. Então eu fui pra lá, fiquei dois anos e gostava muito do trabalho. Tanto a DNV quanto a Forship seguiam esse mesmo trilho de pegar o cara, fazer a formação e preparar ele pra assumir uma vaga. Mas no final de 2014 já tinha desmoronado o escândalo na Petrobrás e as coisas foram ficando mais difíceis. As empresas todas estavam retendo contratação, retendo novos projetos, e as coisas foram desacelerando. Aí eu fui sentindo no início de 2015 que não ia rolar ficar na DNV. Como eu tinha feito um bom trabalho como estagiário na Forship em 2013, tinha mantido boas relações lá, eu procurei o pessoal de novo, saí da DNV em outubro, e em novembro de 2015 eu entrei na Forship, já como assistente, continuei até me formar e to lá até hoje. Porém, nem todos que se formaram comigo tiveram a mesma sorte de continuar naquele caminho e no fim do túnel ter um emprego. Eu digo sorte porque foi um timing muito certo. A empresa tava precisando de alguém e eu me ofereci e procurei a vaga. Mas é claro que foi fruto do trabalho que eu tinha feito lá anteriormente como estagiário. Tanto que eu saí de lá, depois pedi pta voltar e eles me aceitaram de volta. Isso aconteceu porque eles deixaram portas abertas pra mim lá, porque eu saí de lá com uma boa relação.

Ramon – Eu, particularmente, acho que a época boa pra começar a estagiar é no 7º, 8º período (em termos de matéria), porque antes é uma carga muito alta de disciplinas. Essa é uma época boa porque você já tem um conhecimento bom e um currículo apresentável pra uma empresa, tratando, claro, de um estágio na área naval, e você consegue conciliar as duas coisas melhor. Eu conheci muitas pessoas que começaram a estagiar muito no início da faculdade e se perdiam, acabavam deixando o foco. A pessoa acaba começando a estagiar pra avançar na carreira como Engenheiro Naval, mas acaba atrasando formatura, sabe? Então eu acho que é mais uma questão de saber conciliar as duas coisas mesmo. Mas, na minha opinião, com o que eu vejo de maneira ideal, a época ideal é essa mesmo.

Chegar no 9º, 10º período sem estagiar é prejudicial?

Ramon – Deixar pra muito tarde também é ruim. Se você tiver acabado de se formar e nunca tiver tido experiência, pode ser ruim, sabe? Mas eu não acho que seja criticamente ruim. Não é isso que vai ser determinante. Mas é por isso que eu recomendo procurar estágio faltando mais ou menos um ano e meio pra acabar, porque você vai conseguir estagiar, ganhar experiência, sem te atrapalhar muito na faculdade.

Dirney – É claro que vocês têm uma condição de contorno pela qual vocês vão ser avaliados. Se a gente pegasse um estudante lá em 2011, 2012, com o barril de petróleo a US$110, no 9º período, que nunca estagiou, esse cara não ia ter chance nenhuma, porque, assim, sobrava emprego, sobrava vaga e tinha tudo. Agora, do final 2014 pra cá, ta muito mais escasso. Então os profissionais da área, quando forem te avaliar, assim, eventualmente, vão entender que você passou por um momento de recessão da economia. A maneira como eu entrei na Technip foi por meio de um programa de trainee. Entrei no programa de trainee e tinham dois ramos: a parte da engenharia submarina e a parte da engenharia offshore. Assim, por sorte, a verdade é essa, eu entrei na parte de engenharia submarina, porque eu tinha uma predileção por essa área, já tinha trabalhado com isso aqui na faculdade e pensei que teria mais chance nessa área.

Qual o diferencial de vocês nesse mercado em crise?

Dirney – Acho que é muito de timing e mostrar eficiência no trabalho.

Ramon – O network também é muito importante pra você conseguir um emprego, conseguir sucesso. É essencial você conhecer as pessoas certas, procurar fazer amizade no meio naval. Eu, por exemplo, consegui meu estágio na NSG assim. Fiquei dois anos como estagiário e depois fui efetivado. Óbvio que isso não é uma regra, mas quanto mais contato você tiver, mais isso pode te ajudar. Ainda mais no nosso ramo, naval, que é bem reduzido.

Pedro – Essa é uma questão muito relevante mesmo. Nosso mercado é realmente bem reduzido, e o network importa muito. Eu não trabalho como engenheiro naval, mas no mercado de óleo e gás, de engenharia naval, todo mundo se conhece. Então é muito importante que você busque fazer um bom trabalho, se esforçar, porque, se você faz isso, essa mensagem passa, não só na sua empresa, mas em outras empresas também. É importante você se dedicar.

Eu estou em dúvida sobre qual caminho seguir; pensando até em migrar pra uma área de engenharia geral, consultoria. Gostaria de saber de vocês qual a perspectiva de crescimento do trabalho de vocês e comparar isso a, por exemplo, trabalhar com consultoria.

Marcos – Eu acho que você deve seguir o caminho pelo qual você sente paixão. Mas como descobrir do que você gosta? Testando. A maior oportunidade que você tem é de testar. Todo mundo aqui tem a mesma coisa em comum: estão em uma universidade grande, a maior universidade do Brasil. Tem muita coisa pra testar.

Ramon – E em toda a naval tem professores, de cada área, que são excelentes profissionais e desenvolvem muitos projetos de que a gente nem fica sabendo. Então a gente tem que correr muito atrás, mas vale a pena. Passa seis meses com um, seis meses com outro. Eu sinto falta de ter feito isso. Eu dei sorte que comecei a trabalhar numa área que eu gosto, que é a de projeto, que eu dou a maior força pra quem quiser entrar nela, porque é a área que a gente mais precisa aqui no Brasil. Mas eu também sempre tive essa dúvida: “o que eu posso fazer?”. Então passa seis meses com um professor, seis meses com outro; conversa com eles, com quem ta trabalhando na área, com quem ta estagiando… Pra você saber do que você gosta.

Marcos – Pensando na engenharia naval, temos que ter em mente os três setores: a área técnica, a área gerencial, de gestão, e a área acadêmica. Qual é o meu perfil? Meu perfil é técnico? Vou projetar estrutura de navio, eu vou ver sistema de máquinas? Meu perfil é gerencial? Po, quando eu vejo os email do Consulting Club aqui da UFRJ, ou da Liga de Investimentos, eu me interesso pra caramba? Ou eu gosto mais do lado acadêmico? Olha lá o artigo que saiu do Tatalo do teste de ondas que ele fez no tanque! Então eu acho que primeiro você tem que identificar essa coisa maior, com qual área você se relaciona mais, e aí você pode testar. Mas testar como? Testar com a Liga Naval, por exemplo, não só pensando no conteúdo que eles trazem pra gente, mas pensando no que você gosta de fazer. Será que eu gosto de trabalhar ligando pras pessoas, correndo atrás de patrocínio, ligar pra palestrante? Ou será que eu me identifico mais com outras coisas? Isso já vai dando um sentido no que você faz. Pra saber do que você gosta: TESTA. Vocês têm tempo pra testar. Invistam numa iniciação científica, na Liga, numa monitoria, na CANa, nas equipes de competição… Vale a pena pra se descobrir.

Gostaria de saber sobre a influência do mestrado, o quanto importa. O que vocês acham do mestrado daqui e fora daqui? Acham válido investir em um mestrado fora da área, como em gestão, por exemplo? Quem tem mestrado é valorizado no mercado?

Dirney – Cada caso é um caso. Eu trabalho num centro de pesquisa, então lá eu não sou o cara que ta fazendo mestrado; eu sou o cara que não tem mestrado. Então, assim, pro meu trabalho hoje, que é numa área extremamente técnica, num centro de pesquisa, na área de engenharia, o mestrado é essencial. Todos na minha equipe têm, quem é mais velho tem… Tem muita gente com doutorado… Então, no meu caso, foi um caminho natural a ser seguido.

Marcos – Eu acho o mestrado importante por vários motivos. Primeiro porque eu acho que ele te nivela em nível com a formação de estrangeiros. Outro ponto é pensar em educação continuada, pra não ficar parado em tempos de crise também.

Pedro – Na área operacional, que é a área em que eu trabalho, exceção é o pessoal que tem mestrado. Nessa área, o pessoal é muito mais focado na experiência no campo. Então o seu currículo acadêmico não faz muita diferença na hora de uma contratação ou promoção. Eu faço MBA em gestão de projetos mais por curiosidade mesmo. Eu acredito que isso vai, sim, agregar na minha carreira, mas não é algo essencial na minha área. E eu concordo que esse ponto de não parar de estudar é muito bom. Nada que você vai ver fora daqui é igual ao que a gente vê aqui.

Ramon – Sim, educação continuada é muito importante. Eu fiquei um ano parado pensando no que eu queria estudar e me decidir, mas é super importante. Um mestrado na área de gestão, um MBA, é bem importante pra todo mundo, até pra quem curte mais a área técnica. É bom pra gente saber no que ta se metendo.

Marcos – Em termos de valorização financeira, muitas pessoas dizem que um mestrado não faz diferença, que se você faz um mestrado é por desejo seu, uma curiosidade sua. Contudo, eu sei de empresas públicas cujo plano de carreira prevê claramente um trilho sem mestrado e outro com mestrado. Ou seja, deixam claro que quem tem mestrado vai ter uma ascensão mais rápida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *