Resumo da carreira
Luiz Antonio Vaz Pinto, possui graduação em Engenharia Naval e Oceânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991), mestrado em Engenharia Oceânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995) e doutorado em Engenharia Oceânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). Atualmente é Professor Associado do curso de graduação de Engenharia Naval da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Máquinas Marítimas atuando principalmente em ruído/vibração de Máquinas e Estruturas, em projetos que envolvem medição e diagnóstico. Coordena projetos de pesquisa relacionados a empresas ou instituições de fomento a pesquisa (FINEP e CENPES). No biênio 2015-2016 atua como diretor técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (SOBENA).
Quando o senhor fazia graduação, o senhor pensava em ser professor?
Não, confesso que eu nunca pensei, foi uma surpresa, porque na época o mercado de trabalho era muito ruim. Me formei em 91 e as pessoas do meu curso faziam concurso para banco central, auditor fiscal, qualquer coisa com curso superior e que desse uma boa remuneração, e na época eu realmente achava que não valeria a pena mudar a minha área apesar do mercado ser muito ruim, então fiz um concurso para marinha e Emgepron onde fazíamos projetos de submarinos, classe IKL, um projeto alemão e ali tive a oportunidade de participar desse projeto de ponta da marinha. Permaneci um ano por lá e percebi que não era meu lugar, apesar de ter uma tecnologia avançada o projeto era todo lá de fora, você basicamente fazia a produção baseado no projeto, não existia margem para inovar e o Brasil não tem tradição na construção de submarinos. Achei que meu aprendizado ali foi bastante limitado, não que eu não tenha aprendido nada, ganhei uma noção de fábrica, de estaleiro, uma noção de como a obra caminha, de produção. Mas eu já estava fazendo mestrado e então apareceu a oportunidade do concurso, me inscrevi e consegui aprovação no concurso de professor.
Como professor do departamento de engenharia naval, quais foram os principais desafios encontrados?
Eu acho que o nosso curso mudou muito ao longo dos anos, basta olhar para o número de formandos, teve uma época que tivemos um salto de concluintes, e não é coincidência, mas sim um reflexo do mercado. No ano 2000 a indústria começou a reaquecer, então saiu aquela resolução que fez com que as plataformas tivessem que ser construídas aqui no Brasil fomentando o conteúdo local o que favoreceu muito a indústria naval brasileira. Com esse novo cenário, a procura do nosso curso aumentou muito, então o número de turmas aumentou, por exemplo, minha primeira turma tinha 6 alunos, agora temos turmas de 40, 50 até 80 alunos. Isso estabelece um novo perfil, antes você tinha uma programação de uma disciplina pra 6 alunos, você manter esse formato para 40 provavelmente não dará certo, porque o nível de atenção é diferente, as atividades e as formas de avaliar mudam, então isso teve e tem exigido muito até hoje, causando até um efeito em entrega de notas e avaliações. Algumas das nossas disciplinas o pessoal reclama que não cabe dentro do período, talvez seja por esse motivo. Um dos desafios é esse, rever essa realidade atual com turmas maiores e com uma necessidade que vem até do próprio governo de formar mais engenheiros. Dentro da universidade o professor não tem apenas a função de aula, tem a parte de extensões, consultoria, trabalho com indústrias e tem a parte de produção científica que envolve orientações, teses, artigos, somos muito cobrados quanto a isso. O professor precisa fazer bem as três coisas, mas dificilimamente é possível fazer bem todas, então no fim, o professor faz bem uma coisa, outra nem tanto, cada um tem sua prioridade, com isso alguns acabam focando em uma área e sufocando outra.
Baseado nessa mudança do mercado você enxerga que o curso em si, na montagem das disciplinas, nos conteúdos que hoje são passados, teve uma mudança drástica nesse processo?
É difícil falar do curso de maneira geral, todas as disciplinas nós nos esforçamos para acompanhar. Um exemplo, muitas disciplinas de plataformas foram introduzidas, até como optativas. Na área de máquinas a gente se esforçou para mudar um pouco o viés, antes você pensava em máquina térmica e em maquina de fluxo, hoje estamos pensando no sistema de propulsão, sistema de auxiliares, amplia-se a abordagem. Uma coisa é entender o ciclo de funcionamento, mas você também precisa pensar na aplicação e justificar isso dentro das aplicações. Por exemplo, porque um motor de 2 tempos é melhor para um navio de grande porte e um motor de 4 tempos é utilizado em navios menores, não podemos nos prender unicamente ao ciclo termodinâmico, mas sim ao conjunto que envolve outro critérios, mesmo que o desempenho da maquina for excelente, se o motor não cabe dentro do navio, então você precisa ter uma segunda opção, e claro que cada opção dessas está associada a vários critérios.
Quais são os conselhos que você daria para um graduando que quer ser professor, o que ele pode buscar durante a graduação, que faria uma diferença?
Na universidade eu diria o seguinte, o gosto pela pesquisa é fundamental, se você pretende seguir carreira acadêmica, não pode simplesmente chegar na sala de aula para dar aula, pois dar aula muita gente pode dar, mas dentro a universidade não é uma escola apenas, é mais que isso, ela envolve muito mais. No caso da engenharia eu vejo com bons olhos a interação com a indústria porque sem ela você não tem essa experiência de indústria, você acaba por falar de coisas que você não vivenciou e não conhece, tentamos suprir isso com as atividades de extensão, com as consultorias que o laboratório o qual pertenço realiza. Voltando para a pergunta, o aluno que hoje tem um interesse na carreira acadêmica tem que gostar de pesquisa e tentar na medida do possível desenvolver um dom natural de didática, afinal se você é um engenheiro que da aula, você precisa desenvolver essa habilidade ao longo de sua formação, pois se espera que o professor tenha uma sequência de aula, consiga transmitir o conteúdo. Existe aquela história, o cara sabe muito, mas não sabe transmitir, então tentar juntar essas duas frentes, e claro gostar de estudar, porque ser professor é um constante estudo.
O que um graduando de engenharia naval pode fazer para ter o seu perfil mais próximo do esperado?
Um indicador forte da faculdade é o CR, que mesmo muito questionado, não deixa de ser um indicador, mas claro que ele não mede tudo, já tive caso de aluno com um CR fantástico que teve um desempenho ruim no laboratório, e o caso do aluno com o CR mediano que é envolvido. Eu tiro por mim, quando entrei fiz o básico e tirei notas razoáveis, mas a minha motivação veio quando eu entrei no profissional, notei uma mudança grande inclusiva nas notas. Então é assim o cara que entra de um jeito não vai necessariamente terminar assim. Quem entrou bem, teve um segundo grau forte, se nada der errado ele irá bem aqui, mas tem aqueles, que assim como eu, entram desmotivados, mas pega gosto quando entra no profissional. De qualquer forma em algum momento o aluno tem que sentar e estudar pra valer, ralar, eu não acredito em coisas milagrosas de aprender a matéria em 3 dias, ninguém sabe tudo, tudo é treinamento, no caso estudo. O que a gente espera é que o aluno tenha compromisso com o curso, que realmente queira se tornar engenheiro. E infelizmente temos casos que mostram o contrário. A universidade hoje tem colocado muitas atividades extracurriculares, o que tem sido até muito questionada, primeiro que ela entende que todos os estudantes são iguais independentes do curso, o que não é verdade, logo colocar um padrão igual a todos é algo a se refletir e segundo porque pode vir algum aluno e falar que entrou na faculdade somente para estudar. O extracurricular eu entendo como o estágio não obrigatório, as iniciativas de empresas juniores, as iniciações científicas, as equipes de competição, mas isso só não pode tirar o foco do estudo, por alguma razão muitos que se envolvem nas equipes acabam tendo um desempenho ruim, se o aluno tiver de optar, na minha opinião, o foco deve ser o estudo, o curso, mas se for possível fazer as duas coisas claro que será ótimo.
O que tem um peso maior, um bom curso (no caso um bom CR no final do curso), mas sem muitas atividades realizadas ou muitas atividades realizadas e um CR abaixo da média?
É muito relativo, o cara que vai te contratar, vai olhar muito para o que a empresa dele tem interesse, então se eles procuram alguém para trabalhar com modelos de elementos finitos, por exemplo, se você trabalhou em um laboratório uma pesquisa que desenvolvia esses modelos, você tem um perfil que se aproxima mais do que a empresa quer, então você adquire uma vantagem em cima de seus concorrentes, mas se a empresa quer alguém que trabalhe com embarcação com fibra de vidro, quem fez uma equipe em que trabalhou com isso vai ter vantagem. Então procure aquilo que esta na linha do que você gosta dentro da faculdade pois ninguém consegue ser especialista em tudo. Para achar o que você tem mais interesse, você deve ir se arriscando e buscando o que você gosta dentro do curso que oferece uma habilitação considerada necessária para o engenheiro naval, e a ideia é que as optativas te ofereçam a oportunidade de fazer aquilo que você mais gosta.
Além de ensinar na sala de aula, quais atividades o senhor exerce na engenharia naval e como elas contribuem na sua carreira?
O LEDAV é voltado para trabalhos de acústica e vibração em navios e plataformas, ele oferece a oportunidade de participar das provas de mar do navio, nessa prova você faz o teste de todos os sistemas do navio, um item obrigatório é a medição de ruído e vibração. Então eu diria que a minha atividade de extensão é boa por isso, porque tenho essa oportunidade de ver, quando eu estou dando aula me sinto mais a vontade. Uma coisa é falar o que está nos livros, outra coisa é estar a bordo e vivenciar, o que te confere mais tranquilidade e firmeza para falar de tal assunto. Quanto maior for a integração da indústria com a universidade mais o curso fica bom para quem está sendo formado, a indústria não pode ser muito distante da universidade, até porque a nossa área tem avanços tecnológicos, se não ficarmos antenados, estaremos desatualizados.