Entrevista com João Henrique Volpini

João Henrique Volpini tem mais de 35 anos de experiência na área de engenharia, consultoria, desenvolvimento, suporte e marketing. Formado na UFRJ em Engenharia Naval e Oceânica em 1980. Durante sua trajetória trabalhou no Estaleiro Mauá, em classificadoras, como DNV e RBNA. Ao final da década de 80 e toda a de 90, devido à crise na construção naval, auxiliou no desenvolvimento de um microcomputador marítimo, depois foi revendedor do AutoCAD, plotters e mesas digitalizadoras, além de ministrar cursos nesta área. Trabalha atualmente nas Barcas S/A Transportes Marítimos – CCR Barcas.

 

No mês de Setembro, a Liga Naval foi até o estaleiro CCR barcas e entrevistou essa fera. A entrevista desta edição está cheia de informações, curiosidades e dicas para você! Confira!

 


Você é formado como Engenheiro Naval e Oceânico pela UFRJ. Como ex-aluno, o que você acha que a faculdade mudou no desenvolvimento profissional em comparação à sua formação?

Vejo que HOJE, a diferença para a minha época são os professores, que antes eram mais da metade da indústria. Isso resultava numa vivência muito prática. Hoje são quase que exclusivamente da universidade. Acho que vocês podem sentir falta disso, dessa visão prática, desta união com a teoria.

Após formado, o que você acha que poderia ter ajudado na sua estabilidade profissional para o futuro?

Quando eu me formei o mercado estava quente, fiz prova para a Marinha, fui classificado em primeiro lugar, fiquei um mês e notei que não era o meu esquema. Porém, a Marinha gera uma estabilidade, você começa com salário baixo, mas agora receberia uma aposentadoria considerável. Mesma situação com concurso da Petrobrás. Quando se é novo qualquer desafio é aceitável, mas com o tempo precisa pensar bem nisso. Talvez olhando de longe, eu tenha ganho mais durante minha vida profissional trabalhando em empresas privadas, mas no futuro fica uma instabilidade … vou depender do INPS?

Quais piores desafios na área de um engenheiro naval experiente?

Empresa privada é muito cheia de altos e baixos. Hoje mesmo, todas as empresas estão nesse clima. Com anos de experiência, você está num nível de salário muito alto, e as empresas preferem contratar um profissional mais novo, com uma experiência média e um salário mais baixo.

Trabalhando com diversos softwares, acha que existe algum especifico?

Específico não. Cada lugar trabalha com algum software diferente. Fazendo o que precisamos para estaleiro é o suficiente. Quando você entra no mercado vai fazer muitos desenhos, não apenas cálculos, e acho necessário pelo menos ter a base do AutoCAD, ou MicroStation, etc. Modelos 3D são fantásticos, mas o dia a dia ainda é bidimensional. Outros softwares de cálculo e análise dependem muito do lugar onde você vai trabalhar. O essencial é um de desenho; como fã do AutoCAD, prefiro ele.

Você acha que o engenheiro no Brasil é tratado de forma diferente no exterior?

Na área de projetos não, pau a pau, não tem diferença. Já tive discussões de alto nível com engenheiros do exterior, e não me senti inferiorizado nos conhecimentos específicos de projeto. Mas quando o assunto é construção, é difícil. O operário brasileiro perdeu muito com a indústria naval em baixa. Não se tem mais o investimento de formar o operário como antigamente.

Tendo trabalhado em várias classificadoras, qual a diferença que sentiu trabalhando nelas?

Na classificadora você tem duas áreas fortes: você tem o cara de escritório que vai aprovar o plano, precisa ser bom na teoria, bom de software, porque dependendo da classificadora ele pode refazer o projeto inteiro usando os softwares da própria empresa. E, no outro caso, é o engenheiro vistoriador, mais de campo, precisa ter uma visão muito grande de tudo, e uma saúde de ferro. De qualquer modo, em qualquer das áreas uma classificadora de porte vai te dar um excelente treinamento.

Seu trabalho atual na CCR é responsável pela maior movimentação de massa no Rio. Você sente que trabalhar com o transporte de pessoas seja uma responsabilidade maior para o engenheiro?

É uma pressão muito grande. Quase não se tem tempo para fazer o reparo porque o barco precisa voltar rapidamente à operação. Tiramos de circulação na hora do vale, para fazer os reparos e não interferir no fluxo e evitar transtornos. Qualquer erro resulta em atrasos, filas e consequentes reclamações.

Você passou por diversas empresas e possui um curriculum bem “diversificado”. Isso foi uma escolha ou apenas consequência do passar dos anos?

Eu passei 15 anos fora da área naval e confesso que foi muito difícil de voltar. Tive que aprender tudo novamente, pois já tinha esquecido. Doei toda minha biblioteca para a UFRJ na década de 90 e quando decidi voltar para a área naval, nem um “trim” lembrava como calcular (risos). Tive que comprar todos os livros novamente, estudar muito para poder voltar. Enquanto isso, tive colegas navais que decidiram seguir outro rumo e nunca mais voltaram. Eu dei sorte por voltar em uma época em que faltava engenheiro naval. A universidade estava formando menos engenheiros navais do que a demanda do mercado. Hoje digo que é difícil sair da área pensando em voltar depois. Uma opção boa é um mestrado, ou doutorado nessa época de baixa, mesmo com uma bolsa pequena.

Expectativa de mercado para os próximos anos?

A Petrobrás vai voltar, sem dúvidas, porque o setor de óleo e gás está em constante investimento. As coisas vão voltando, não no mesmo ritmo, mas a construção de plataformas vai voltar. Porém, deveríamos mesmo é brigar pela construção de navios. Óleo e gás só não dá. O essencial é a volta da construção de navios mercantes.

Que conselho você daria aos engenheiros em formação para que saiam melhores preparados para o mercado de trabalho?

Não conseguiu emprego, encara o mestrado. Tem empresas internacionais que exigem mestrado. Estude bem outros idiomas, como inglês, francês, alemão, e tenta um emprego ou bolsa no exterior. Mas sempre lembrando que um bom inglês é fundamental. O brasileiro tem capacidade de trabalhar fora. Vai sofrer com a cultura diferente, mas vai ganhar uma vivência muito grande, que pode fazer toda a diferença no futuro.


O Volpini atualmente mantém uma biblioteca digital de acesso público, com mais de 3000 títulos da área naval, devidamente organizados em pastas e subpastas. Seu acesso é por esse link.

 

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