Quando ainda começava a operar, há cinco anos, o Porto Itapoá, no Norte do Estado, teve uma surpresa nos seus processos de recrutamento: 29% dos currículos eram de mulheres. Havia de tudo, donas de casa, universitárias, jovens, mulheres maduras. A procura do público feminino foi considerada alta por se tratar de um setor predominantemente masculino.
E elas ainda tinham uma vantagem sobre os homens: quase nenhuma faltava aos processos seletivos:
— Percebemos que as mulheres eram mais engajadas e estavam muito interessadas em trabalhar conosco — explica a gerente de gestão e desenvolvimento de pessoas, Ilcilene de Oliveira.
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Assim nasceu, em 2013, a primeira edição do programa Mulheres Portuárias, com o objetivo de preparar mais mão de obra feminina para o setor. A aposta deu certo. Foram capacitadas e contratadas 47 mulheres, todas da região.
— Passamos a ter menos quebra de máquinas, menos gastos com manutenção, entre outras vantagens — afirma Ilcilene.
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Uma delas foi Josiane de Aguiar. Aos 26 anos, ela trabalhava na área administrativa de uma empresa. Soube da vaga pela internet e decidiu se candidatar. Foram cerca de quatro meses para aprender a ser operadora de equipamento portuário, o que significa dirigir um caminhão com um tipo de guindaste para a movimentação de cargas. Em seguida, Josiane começou a trabalhar e desde então subiu um nível na hierarquia. Casada e com uma filha, ela faz jornadas de quatro dias de trabalho – são 12h por dia – e folga os quatro seguintes. Assim, sobra tempo para passar com a filha.
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As 47 mulheres, entretanto, ainda eram uma gota em um universo de seis centenas de homens. Mas Josiane garante ter tido excelente recepção. Às vezes, diz, é preciso ter algum jogo de cintura. De acordo com gestora de RH, alguns homens, eventualmente, ficam enciumados com o desempenho delas.
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Tudo ia bem no Porto de Itapoá até que três gestantes saíram da empresa e veio o alerta. Se estavam chamando mulheres, precisavam dar condições para que elas ficassem. Era necessário pensar em questões que não existiam antes, como os cuidados com os filhos. Com falta de creches na cidade, o porto capacitou moradoras em um curso de cuidadoras infantis. Além disso, uma escola para crianças de até um ano foi criada.
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Hoje, após duas edições do programa, a quantidade de mulheres está próxima da meta de 20% estabelecida pela própria empresa. Dos 650 funcionários, 19% são mulheres. O próximo passo será desenvolver planos de carreira e trabalhar para que elas ocupem cargos de liderança.
— Precisamos motivá-las — diz a gestora de RH.
Josiane, pelo jeito, não vai precisar de motivação extra. Quando confrontada com os números de pesquisas que demonstram a alta desistência das mulheres em crescer até a chefia, não esmorece:
— Comigo isso não vai acontecer, eu vou até o fim. Pra isso, vou voltar logo para a universidade para estudar logística — diz.
Fonte: Diario Catarinense/LARISSA LINDER